Falando em público: O grande post sobre erros e acertos

Quando o feedback é bom, todo mundo fala. Mas quando é ruim, dificilmente ouvimos sugestões de melhoria. Vamos falar sobre isso?

Como professor, coordenador de muitos eventos e também palestrante na comunidade há mais de 10 anos, sempre fui muito preocupado com aquela história de ser compreendido e realmente passar a imagem que tenho na cabeça, sendo sério e o menos piegas possível (por mais que eu tenha mania de fazer piadas em excesso).
Não é fácil. Por mais que a gente tente melhorar assistindo vídeo de palestras e aula e perguntando para pessoas que você confie que vão dizer a verdade, nunca está bom e tem sempre algo a melhorar. Talvez é o vírus de palestrante “talkaholic” do Vinicius Senger, aquele que nos faz virar a noite testando tudo para ver se tudo vai dar certo ou não. Talvez seja a ansiedade ou o medo do julgamento. Enfim, pelo menos é bom para gente sempre ficar ligado em melhorar e praticar a humildade.

Eu e o Vinícius Senger na minha segunda palestra internacional, em 2012. A primeira tinha sido uma hora antes e só o mug do JavaOne sabe como eu estava nervoso. Está vendo todos estes dispositivos na mesa? Foram arduamente testados pela gente nos dias anteriores. E deu tudo certo! Foto por Yara Senger.
Agora, estando mais do lado de quem ouve do que do lado de quem fala, passei a forçar meus alunos e todo mundo que conheço (e sabe de algo interessante) a falar em público. Fiz minha carreira em cima disso e acho que todos tem a ganhar.

“Ok Marcelo, eu abri este artigo não foi para ver historinha e motivação, mas sim listas e bullets e tudo que pode melhorar minhas habilidades como comunicadora”. Imagem do Giphy.

E meu hábito de anotar quase tudo que passo no meu caderninho ou tablet me fez ter uma lista boa de DOs e DONTs de quem está apresentando algo. Alguns vem de problemas meus que (talvez) resolvi, outros que ainda trabalho, algumas dicas do Speechless do Google (sempre divertidas) e de pessoas, sendo alunas(os) ou palestrantes que vi por aí. Vamos então a grande lista:
=> Ensaie a apresentação pelo menos uma vez, cronometrando o tempo. Se estiver em público, pense nas frases e vá verificando se o tempo que você tem é o correto para sua apresentação.
=> Vai usar alguma conteúdo de outras pessoas? Dê o crédito. Foi difícil fazer aquela foto ou desenho bacana. Além da parte ética, tem a parte legal: o conteúdo pode ser protegido.
=> Faça exercícios de dicção: Repita trava-línguas difíceis como “casa suja, chão sujo”. Tente tornar isso mais rápido; Inspire pelo nariz e,usando o ar inspirado, articule os fonemas “i” e “u” até esgotar o folego. Eu mesmo tenho a língua (bem) presa e pouca gente percebe isso nas palestras. Faço bastante exercício.
=> Estude o público! Fazer a piada local para o público garante a empatia. As pessoas se sentem valorizadas ao ver que quem está ali se preparou para fazer algo especial para aquele momento. E cuidado para não usar a referência errada. Uma vez na Inglaterra, usei uma expressão local para terminar com chave de ouro a apresentação. Meus ouvintes eram todos estrangeiros. Duh!
=> Por falar no conhecimento de público, module seu vocabulário de acordo com quem vai falar. Já palestrei para corretores de imóveis, confeccionistas,pós-doutores… O que sempre foquei e muitas vezes recebi feedback positivo foi: falar simples para o público em questão e usar as palavras que todos ali entendam. Não significa ser chucro. É o inverso. Significa gastar o idioma.
=> Com o tempo, verá que existe uma certa média de tempo por slide nas suas apresentações. Pra mim funciona bem o 1 slide/minuto.
=> Sabe como você vai marcar e acompanhar sua média de tempo por slide? Em toda a apresentação, cronometre seu tempo, não importa se seu host está fazendo isso ou não. Isso te dará poder para mudar os planos se necessário.
=> Logo no início, mostre a referência de onde este seu conteúdo está. Eu passei a ter o hábito de pegar uma palestra, postar na internet primeiro e já por o link no primeiro e último slides. Dessa maneira, ninguém precisa desesperar pra escrever tudo ou tirar aquela foto marota (que será jogada fora) em breve. Você terá toda a atenção.
=> Mil slides falando sobre você, sua vida, seu negócios, seus hobbies seu cachorro… A não ser que seja este o tema da palestra, as pessoas podem achar que você se acha. Faça um slide para mostrar porque você pode estar ali falando do tema. Eu costumo cronometrar 20 segundos como limite para eu me apresentar e já acho muito.
=> E nas apresentações em grupo, sempre cumprimente a todos e diga seu nome antes de falar. Isso te dará empatia.
=> Palavrões e referências religiosas não funcionam. Teve uma vez que usei a expressão “magia negra” para dizer sobre um artifício sensacional que o pessoal fez para resolver um problema. Reclamaram. Daí mudei para “magia branca”. Falaram que fui racista. Virou “magia”. Pronto!
=> Braços cruzados transmitem arrogância. Tente soltar as mãos e gesticular com parcimônia. O mesmo vale para mão no bolso.
=> Olhe para todos na platéia. Não é hora de flertar ou olhar para o chão. É hora de mostrar que está dando atenção para cada um. E é olho-no-olho. Isso transmite confiança e empatia.
=> Qual é seu tique nervoso? Tente diminui-lo. O meu é coçar a cabeça e o nariz. Como descobri? Perguntando para as pessoas, porque por mim não descobriria nunca.
=> Vai mostrar um texto grande na tela? Use uma fonte grande e aumente o contraste. Caso contrário, as pessoas de trás logo vão dispersar.
=> Precisa mostrar muita informação? Evite bullets ou listas extensas. É muito chato em apresentações! Veja como ficou chato neste artigo. Eu sou fera em desrespeitar esta regra. Aceito somente com “licença didática” quando estou dando aula.
=> Você já viu grandes erros de idioma nos slides dos outros? E nos seus? Geralmente a resposta é SIM para a primeira pergunta e NÃO para a segunda. Tem paradoxo aí. Logo, sempre revise tudo aquilo que escreve.
=> E você está lendo slides? Não! Se for assim, antes mandar um pdf com o resumo para todos. Assim ninguém perde tempo. Geralmente quem está do outro lado tem vergonha alheia nestas horas.
=> Aliás, se for mostrar código-fonte, abuse do zoom. E ainda melhor que o slide de código é um link para onde ele pode ser baixado.
=> Se vai mostrar teoria e prática, não demore para mostrar os exemplos práticos relacionados a teoria. As pessoas vão assimilar muito mais fácil. O que eu faço é evitar mostrar uma próxima teoria sem dar o exemplo prático da anterior. Não existe prática para sua teoria? iiiiiii…
=> Deu problema na demonstração ? Tente resolver rápido e, se não der certo, segue a vida. Não fique tentando resolver muito tempo. Mais fácil usar a piada do “Na minha máquina funciona” do que ficar tentando arrumar e não conseguir.
=> Vai falar de tópicos muito independentes? Use as cores para mostrar que você está mudando o contexto. Isso facilita o entendimento e renova a ideia de passagem de tempo na cabeça de todos.
=> Se ao final você viu que não vai dar tempo, é melhor pular algum slide e dar a referência no final do que sair falando que nem tagarela.
=> Acabou o tempo? Pare. É uma questão de respeito a quem assiste e a quem vem depois pra falar.
=> Se alguém fizer uma pergunta que não sabe, diga que não sabe. Por mais que pareça simples, não é fácil conter o ego. Lembre-se: você é uma pessoa e não uma enciclopédia. O que eu faço é dizer que não sei, pergunto para as pessoas se alguém sabe responder e, se ninguém souber, pego o nome e o contato e prometo estudar e mandar a resposta. Sempre digo também que, se alguém descobrir antes, nos avise por redes sociais.
=> Peça feedback a quem você acha que vai dizer a verdade. Pode ser seu amigo ou não (preferencialmente). Escolha uma pessoa em que você confie e pergunte como você pode melhorar e o que foi legal. Sempre tento fazer isso e às vezes pego feedbacks super estranhos que me ajudam muito.
=> Monetize sua apresentação nas redes sociais. Como palestrante da comunidade eu não recebo um realzinho por palestra, mas acho que tenho que receber algo em troca. Como? Pedindo ao público que te siga nas redes sociais e dê feedback da palestra. É montar uma turma que vai te ouvir, aumentar sua rede de contatos e de um jeito ou de outro vai valorizar seu passe. Aliás, se você gostou da fala de alguém, o mínimo que pode fazer é compartilhar. Dê os louros!
=> Eu sempre gosto de agradecer ao público. Afinal, não é quem está na platéia que tem que estar orgulhoso de ter visto aquilo, mas sim o ser humano que conseguiu ter a presença de uma boa turma para ouvi-lo(a). Também bata palmas a quem te vê.

Enfim, este com certeza não é o fim da lista, mas é um bom começo para gente rever nossos hábitos de comunicação e melhorar a troca de ideias.

Palmas pra você que chegou até aqui. =)

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